O preto papusse papão
José Ângelo Cottinelli Telmo (Lisboa, 1897 - Cascais, 1948), um dos mais importantes arquitectos portugueses, foi, na esteira do caminho aberto por
Stuart de Carvalhais em 1915 com "Quim e Manecas", o segundo moderno da
banda desenhada portuguesa a partir de 1920, e o criador, grande
impulsionador e modelo do jornalismo infanto-juvenil.

Extremamente dotado, talentoso e versátil, desenvolveu uma intensa
actividade de escritor, crítico, ensaísta, desenhador, ilustrador, gráfico,
decorador, cartoonista, etc., além dos dotes de músico e actor, marcando
também indelevelmente a história do cinema português ao ser o autor do
argumento e o realizador de "A Canção de Lisboa".

Uma das facetas mais perenes e fecundas da sua vasta obra foi a criação e
superior direcção do ABC-zinho, de 1921 a 1929 (I série e II série até ao
nº 200), que, pela imaginação, qualidade e extrema diversidade das bandas
desenhadas e das novelas, rubricas e iniciativas, construções de armar e
concursos, etc., e pela inteligente e moderna interactividade com os
leitores, seria a matriz do que de melhor se faria posteriormente.

Em 1920 e 1921, na moderna revista ABC, criou duas das mais inovadoras e
desopilantes bandas desenhadas desse tempo, "O Pirilau que vendia balões" e
"A grande fita americana", cujo sucesso levou à criação do ABC-zinho, onde
faria mais algumas BDs sempre graficamente inovadoras, entre muitos outros
trabalhos, como uma irónica História de Portugal (sendo alguns dos desenhos
de Emmérico Nunes) numa publicidade aos chocolates SIC, além da importância
do seu papel como descobridor e incentivador de talentos.

Como arquitecto, além de belos projectos em Lisboa de linha "art déco" e
modernista, de que a Estação Sul-Sueste e a Standard Eléctrica são dois dos
mais importantes exemplos que se conservam, desempenhou importante
actividade na CP e foi o arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português
de 1940, etc.

Além de amplo material impresso e documentos raros, com destaque natural
para as 3 publicações irmãs ABC, ABC-zinho e ABC a Rir, a exposição inclui
um número assinalável de originais, na sua maior parte expostos pela
primeira vez, representativos das diversas facetas do trabalho gráfico de
Cottinelli: trabalhos para publicidade, cartazes, postais, desenhos de
bailado inspirados nos Ballets Russes, ilustrações para livros,
especialmente as admiráveis colagens em papel de lustro para O mundo dos
meus bonitos, estudos de profissões tradicionais, desenhos juvenis, etc.,
bem como exemplos expressivos de projectos de arquitectura.

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